Fonte.: CanalEnergia
Variabilidade dos recursos renováveis criou desafios metodológicos e técnicos para o planejamento e a operação do sistema até mesmo no Brasil com suas ‘baterias de água’
Por Maurício Godoi
O avanço das renováveis em todo o mundo tem sido apontado como o caminho para o alcance das metas de redução de efeito estufa, possibilidade de acesso universal a energia limpa e confiável, que gera empregos e outros benefícios estruturais para os países. Mas esse crescimento no mix tem levantado preocupações acerca do planejamento dos investimentos de geração e transmissão, até mesmo no Brasil com seu parque de UHEs.
Segundo a consultoria PSR, a inserção de grandes quantidades de renováveis na Rede Básica, somada às mudanças profundas no nível de distribuição requer aperfeiçoamentos técnicos e metodológicas no planejamento e operação do sistema brasileiro. Na avaliação da empresa, um caminho deve ser por meio da inserção de recursos de flexibilidade tanto no nível de geração como na transmissão. Estes deverão ser um componente importante dos aperfeiçoamentos a serem considerados.
A variabilidade dos recursos renováveis, notadamente a solar e eólica, criou esses desafios metodológicos e técnicos. É o que aponta a consultoria na edição mais recente de sua publicação mensal Energy Report para o mês de maio. E o Brasil não está imune a esse fenômeno mesmo com seu parque de usinas hidrelétricas.
De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica, ao total são 1.368 usinas que se utilizam do potencial hídrico no país com 109,1 GW de potência instalada, sem considerar as usinas com reservatórios. Essas as que poderiam “à primeira vista, operar como “baterias de água” para gerenciar a variabilidade das renováveis”, indica a PSR.
“Embora a capacidade de armazenamento hidrelétrica seja de fato suficiente para gerenciar o montante instalado atual de renováveis, de quase 20 GW (16 GW eólica e 3 GW solar), estudos de planejamento indicam que estes montantes podem quintuplicar nos próximos vinte anos, atingindo 115 GW”, ressalta a consultoria. E ainda há uma perspectiva de aumento da geração distribuída na casa de 30 GW na rede de distribuição. Atualmente, a GD alcançou o volume de 3 GW de capacidade instalada espalhadas por mais de 240 mil usinas, segundo dados da agência reguladora.
A PSR aponta que esses números suscitaram preocupações sobre a gestão da incerteza na produção de energia e o seu impacto na rede de transmissão, que passam desde congestionamentos a até blecautes. Para trazer luz a essas questões a EPE e o ONS buscaram pesquisar o aperfeiçoamento de metodologias e ferramentas analíticas para planejamento e operação neste novo ambiente. E para esse desenvolvimento a agência GiZ no âmbito da cooperação técnica Alemanha-Brasil, patrocinou o projeto que foi realizado por um consórcio formado pela própria PSR, e ainda, Tractebel e Lahmeyer International, envolvendo a colaboração com a equipe de especialistas da EPE e ONS.
Os resultados ainda não foram apresentados, mas a PSR indica que entre as conclusões está a sinalização da importância potencial de se introduzir recursos flexíveis na rede de transmissão, de maneira análoga ao que foi visto para a geração. Ressalta a necessidade de avaliar o incremento das renováveis na participação dos chamados “novos mercados de energia”. Nessa classificação estão os “prosumidores” adotando recursos de energia distribuída (RED) como painéis solares e o desenvolvimento de agregadores de flexibilidade.
A avaliação da PSR aponta ainda a necessidade de representar em maior detalhe as interfaces entre operadores/planejadores da transmissão e os operadores de distribuição, bem como modelar os mecanismos de decisão descentralizados dos prosumidores e outros agentes. Na publicação, a consultoria cita uso de baterias ou até mesmo mecanismos de resposta da demanda e a aplicação de tecnologias que permitem o controle do fluxo de potência e da tensão, além de atuar nos problemas de qualidade de energia. E ainda, dispositivos para flexibilizar a transmissão de energia em quatro alternativas entre elas a de emular esse transporte através de uma combinação de resposta da demanda e geração distribuída, apontada como a mais ‘fora da caixa’ entre as avaliadas.