28 jan 2021

Privatização da Eletrobras tem chances de acontecer, diz Wilson Ferreira Júnior

De saída da estatal, executivo admite que a aprovação do projeto de lei que permite a operação no Congresso deverá escorregar para 2022

Fonte.: Valor Econômico/ Letícia Fucuchima

De saída da presidência da Eletrobras, Wilson Ferreira Júnior afirmou nesta quarta-feira que ainda enxerga chances de a privatização da estatal se concretizar, embora admita que a aprovação do projeto de lei que permite a operação no Congresso deverá escorregar para 2022.

“Acho que o projeto de privatização tem chances de acontecer, por isso assumi o compromisso de ficar no conselho de administração, para apoiá-lo”, disse, durante palestra em evento organizado pelo Credit Suisse.

Ferreira Júnior voltou a reiterar que a privatização da gigante estatal “sempre foi e é” uma prioridade do governo federal. “Temos claramente a participação do Ministério de Minas e Energia, a prova é de que [o projeto de lei] foi encaminhado em novembro de 2019. Mas o Congresso tem dinâmica própria, não há como negar”.

A saída do executivo do comando da gigante estatal, após quatro anos e meio, foi anunciada na noite de domingo. Na segunda-feira, Ferreira Júnior explicou a investidores e jornalistas que sua decisão foi baseada numa avaliação pessoal de que a privatização da companhia não se viabilizaria no curto prazo, mesmo com o empenho dos ministros da Economia, Paulo Guedes, e Minas e Energia, Bento Albuquerque.

Embora as dificuldades em avançar com a pauta no Congresso já fossem amplamente conhecidas, a declaração caiu como um balde de água fria no mercado justamente por ter vindo do principal entusiasta do projeto.

A Eletrobras contratará uma empresa de “headhunter” para o recrutamento do novo presidente. “Temos [internamente] pessoas com muita qualificação para me substituir, os desafios agora são de continuidade da reestruturação”, disse Ferreira Júnior.

Para o executivo, a reestruturação da Eletrobras, desafio que assumiu em 2016, já está concluída. Mas, em sua avaliação, há alguns pontos para avançar, como o ajuste de remuneração para patamares mais compatíveis com outras estatais e com o mercado.

Geração e transmissão seguem no foco

As áreas de geração e transmissão permanecerão no foco dos investimentos da Eletrobras no futuro, segundo Ferreira Júnior. O executivo lembrou que a usina de Angra 3 corresponde a grande parte dos investimentos previstos no plano de longo prazo da companhia. “Com a medida provisória 998 vamos ter a decisão final para poder fechar esse processo [de Angra 3], ter uma licitação internacional para selecionar o EPCista no segundo semestre”.

Aprovado no fim do ano passado, o Plano Diretor de Negócios e Gestão da Eletrobras para o período entre 2021 e 2025 prevê aportes de R$ 41,1 bilhões. Desse montante, aproximadamente R$ 15,3 bilhões estão relacionados à Angra 3.

Para Ferreira Júnior, a MP 998 tem condições de ser aprovada no Congresso, embora o prazo seja apertado – a medida, que já passou pela Câmara, perde sua validade em 9 de fevereiro. “Todos os temas que estão contidos lá são prioridades nacionais, não podemos abandonar esse processo”, diz.

O executivo disse ainda enxergar oportunidades de crescimento “brownfield” para a Eletrobras, através de aquisição de participações em grandes usinas e linhas de transmissão que possam interessar à estratégia da companhia. Recentemente, a estatal comprou fatias de sócios em usinas eólicas, lembrou Ferreira Júnior.

Sobre a participação da estatal no último leilão de transmissão, após vários anos fora das licitações, ele disse ter ficado “muito satisfeito com o resultado”. “Não fomos o último colocado em nenhum deles. Mas [nossa participação] demonstrou principalmente que tivemos respeito à disciplina de capital”.