Fonte.: Correio Braziliense
Com o apagão no Amapá completando 30 dias, a escuridão e todos os males que dela decorrem provocaram na população daquela capital, de quase 860 mil habitantes, um misto de desconfiança e de repúdio com o gerenciamento privado nas operações de transmissão de energia elétrica.
Trata-se aqui e todos sabem disso, de um bem de utilidade pública, essencial para um mínimo de civilidade e cidadania em qualquer localidade, ainda mais numa capital desse porte. Atualmente, esses serviços vêm sendo realizados pela empresa Gemini Energy que há pouco adquiriu a concessão de outra empresa espanhola privada, a Isolux, que passa atualmente por um sério processo de recuperação judicial.
A população do Amapá, que pouco era informada desses contratos, fechados em gabinetes políticos, mesmo pagando religiosamente altas tarifas em suas contas mensais, por um serviço, que muitos consideram de baixíssima qualidade, aguentou o quanto pode sem reclamar. Não fosse o incêndio na subestação, atingindo um dos principais transformadores de energia da capital, a vida naquele distante estado seguiria em frente, com as eventuais reclamações sobre a prestação de luz elétrica, amontoadas no fundo da gaveta, blindadas por interesses, sempre escusos a unir políticos locais astutos e empresários gananciosos.
Essa é a realidade dos fatos. A demora e o descaso com uma situação tão grave, a paralisar a vida de centenas de milhares de pessoas, pouco comoveram as autoridades
locais. Muito menos o governo federal, que por aquelas bandas fez uma aterrissagem breve, depois de mais de uma semana de apagão, sendo, na ocasião fortemente vaiado
pelos moradores onde desfilou.
Como se trata de um serviço prestado por operadora privada, as autoridades chegaram a desdenhar do problema, preferindo fazer cara de paisagem para a questão. Foi somente com o agravamento da situação nos hospitais e na economia local e graças a repercussão nacional do caso, a ganhar manchetes dentro e fora do país, que as autoridades ensaiaram um movimento visando resolver o caso.
Nesse tempo, em meio ao breu da noite, tem refletido muito sobre a conveniência de entregar tão importante prestação de serviço a uma empresa privada, controlada por uma holding estrangeira de um país distante, que ninguém sabe, ao certo, quem são os donos, nem mesmo quem nela trabalha.
Esses comentários vêm a propósito da privatização efetivada da Companhia Energética de Brasília (CEB), na esperança de que esse importante patrimônio do cidadão brasiliense, entregue à gestão da inciativa privada, não resulte na repetição desse lamentável caso que ainda ocorre no Amapá.
Para a maioria da população, que também não foi consultada sobre essa venda e que muito teme pelo futuro, fica aqui o triste exemplo vindo do Norte do País e a torcida, para que a prestação dos serviços melhorem e as tarifas sejam reduzidas, o que em nosso país, é apenas um sonho distante. Ao menos fica o consolo de que o melhor ambiente para dormir e sonhar é na escuridão.