Se o país não entrou em racionamento até o momento é porque o sistema de transmissão mostrou-se resiliente, no futuro o planejamento para esse segmento indica maior flexibilidade para a operação ante a expansão mais dispersa pelo país
Fonte.: CANALENERGIA / MAURÍCIO GODOI DE SÃO PAULO (SP)
A crise hídrica deste ano está mostrando-se mais forte do que aquela que culminou no racionamento de 2001. O Operador Nacional do Sistema Elétrico estima em 21,1% o nível dos reservatórios no Sudeste/Centro-Oeste ao final de agosto, segundo a primeira revisão semanal do PMO deste mês. A projeção é de chegar a cerca de 10% ao final do período seco. Duas décadas atrás o volume que levou à redução compulsória foi da ordem de 26% nesse mesmo submercado. Então, por que o governo ainda afirmar com convicção que não temos risco de nova crise como aquela?
A explicação possui diversas razões, as principais: apesar de ser majoritária, a fonte hídrica perdeu espaço, e ainda, a capacidade de transmissão mais que dobrou integrando todas as regiões do país, dotando o ONS de maior capacidade de manobras que levam ao melhor aproveitamento dos recursos disponíveis. Claro, ainda há gargalos que precisam ser resolvidos, mas o aprendizado de 20 anos atrás ficou e o futuro promete uma rede mais resiliente a futuras crises. Em linhas gerais, a perspectiva é de que o modelo atual de leilões deverá permanecer, uma vez que o resultado desde a mudança implementada em 2017 pela Agência Nacional de Energia Elétrica tem sido positivo, com todos os lotes negociados e deságios que não raramente superam 50%.
Apesar disso, aprimoramentos estão no radar do Ministério de Minas e Energia. Tanto que solicitou ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) um estudo para a expansão da geração e da transmissão no futuro, realizados pela RegE Consultoria, do ex-diretor da Aneel Tiago Barros Correa.
Umas das questões é como planejar o futuro do segmento diante das incertezas sobre a localização dos projetos, uma vez que a expansão não está mais atrelada a grandes usinas, mas a um grande número de projetos dispersos pelo país como se vê no cadastro de empreendimentos nos leilões de energia nova.
Nesse sentido, diz o CEO da consultoria, a ideia para o futuro passa pela adoção de leilão de um certificado que os agentes geradores teriam que adquirir para garantir um determinado volume de potência a ser colocado em um ponto específico. Essa referência ajudaria a EPE a ter um sinal locacional para orientar o planejamento de forma mais assertiva, valendo tanto para o mercado regulado quanto para o livre, que aliás é colocado como um dos impulsionadores da geração no país.