Lucro líquido foi de R$ 490 milhões no terceiro trimestre, 34% abaixo de igual intervalo do ano passado
Fonte.: Valor Econômico / Gabriela Ruddy — Do Rio
O aumento da inflação observado no Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) afetou os balanços do terceiro trimestre da Engie Brasil Energia (EBE) devido à variação monetária sobre as concessões a pagar da companhia. O índice subiu 9,3% entre julho e setembro, fruto principalmente do impacto cambial. Com isso, a EBE registrou lucro líquido de R$ 490 milhões no terceiro trimestre de 2020, valor 34% abaixo de igual intervalo do ano passado.
Nos próximos meses o impacto deve ser atenuado pelo reajuste dos contratos da companhia, diz o diretor-presidente Eduardo Sattamini. O preço médio dos contratos de venda de energia da EBE no terceiro trimestre foi de R$ 196,50 por megawatt-hora, 3,8% acima do obtido entre julho e setembro de 2019, o que reflete, em parte, a atualização monetária, além de exportação para a Argentina.
A receita operacional líquida da EBE no terceiro trimestre foi de R$ 3,2 bilhões, acréscimo de 28,7% na comparação anual. De acordo com Sattamini, a evolução das receitas mostra que o impacto da crise causada pela covid-19 já passou. “Parece que nem existiu pandemia”, afirma o executivo. Ele lembra que a demanda de energia elétrica já voltou a superar os níveis do ano passado em setembro. Ainda assim, a companhia registrou volumes de venda de energia entre julho e setembro 4,3% menores do que em igual período de 2019. Na comparação com o segundo trimestre deste ano, houve alta de 6,9% nas vendas.
A expectativa da companhia é intensificar as vendas no mercado livre de energia nos próximos meses, com a entrada em operação da plataforma Energy Place. “Esta é a primeira plataforma que vende energia no Brasil de forma unicamente digital. É uma ferramenta de comercialização e relacionamento com o cliente, que poderá ter uma visão completa de todos os contratos. Pretendemos ainda adicionar outros produtos à
plataforma em 2021”, explica o executivo.
Apesar do clima de recuperação, a EBE ainda observa atrasos na construção do parque eólico de Campo Largo, na Bahia, que atrasou devido às medidas de distanciamento social para o combate à crise sanitária. A expectativa é que o início da operação ocorra em fevereiro de 2021. “As obras já voltaram à sua normalidade com toda força”, acrescenta Sattamini.
A EBE também enfrenta dificuldades para prosseguir com a construção da linha de transmissão de Gralha Azul, no Paraná. Ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal e Estadual do Paraná questiona o licenciamento ambiental. Sattamini explica que as obras seguem sem atraso nos trechos que não são alvo do questionamento e que a expectativa é reverter a liminar “em breve”. “Reduzimos à metade o impacto ambiental de supressão da vegetação previsto no primeiro licenciamento. Passamos a utilizar torres de transmissão mais altas que diminuem a necessidade de cortes de árvores e a usar drones no lançamento dos cabos. O projeto
tem baixíssimo impacto ambiental.”
A EBE olha também para novos projetos no Brasil, em linha com o novo posicionamento anunciado pela matriz francesa em julho, com foco em energia renovável e infraestrutura. A companhia estuda sua participação no próximo leilão de linhas de transmissão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), previsto para dezembro. “Estamos olhando alguns dos lotes sendo oferecidos e fazendo estudos técnicos. Não sabemos ainda o tipo de competição que vamos enfrentar, mas estamos nos preparando da melhor forma para sermos competitivos”, diz Sattamini, acrescentando que não espera mudança de interesse pelo leilão devido à crise. “Hoje há muita liquidez no mundo, as empresas estão buscando oportunidades de crescimento, então acho que o leilão terá boa participação”, conclui.