Ninguém que milita no setor elétrico tem dúvidas de que estamos em uma transição para se chegar em algum ponto do futuro em uma matriz com nível de penetração de renováveis bem mais elevado
Fonte.:CanalEnergia
XISTO VIEIRA FILHO, DA ABRAGET
Temos observado recentemente declarações contrárias à geração termelétrica no nosso sistema. São no mínimo engraçadas declarações dessa natureza, contra um tipo de fonte que, como todas as outras, têm seus atributos positivos, que compensam os outros tipos de fontes e suas desvantagens, como qualquer outro tipo de fonte.
Dessa forma, tem aparecido regularmente, matérias com estudos que tentam demonstrar que encher o sistema de linhas de transmissão resolve qualquer problema de segurança, a custos ótimos; declarações de acadêmicos e pessoas que se intitulam “de mercado”, afirmando que pode-se desativar 5 GW de térmicas a óleo, e vários GW de térmicas a carvão do Sul, sem que o sistema perceba isto.
Muito curioso lermos declarações deste tipo em uma hora em que os reservatórios do Sul e do Sudeste estão com cerca de 22% de armazenamento, e do Operador Nacional estar despachando cerca de 14.000 MW de térmicas.
Ninguém que milita no setor elétrico tem dúvidas de que estamos em uma transição para se chegar em algum ponto do futuro em uma matriz com nível de penetração de renováveis bem mais elevado.
No Sistema Brasileiro, ainda temos a predominância de geração hidrelétrica, e já agora nossa matriz é uma das mais favoráveis ambientalmente do mundo.
Dessa forma, não podemos atropelar as leis básicas que regem os sistemas elétricos, em nome de uma obsessão injustificável.
Vamos aguardar as evoluções tecnológicas serem mais consistentes para efetuar as substituições que se mostrarem necessárias. Afinal, estamos falando em inovações atuais de níveis de KW e até MW, quando o nosso problema está no nível de GW.
Muitas vezes estão falando em estudos de segurança com contingências simples, quando sabemos que estas só existem em livros texto e em alguns estudos acadêmicos. Na prática, o que causa blecautes são contingências múltiplas, é só ver o histórico. Aliás, é só ver o problema recente no Amapá.
Sistemas completos no dia a dia também não existem na realidade, e novamente, só existem em livros texto e em estudos acadêmicos.
Vejam em cada dia o número de desligamentos programados e não programados em linhas de transmissão e geradores, etc.
Nós, da ABRAGET, sempre deixamos bem clara a nossa opinião: achamos excelente fontes as hidrelétricas, as eólicas, as solares, as tecnológicas de armazenamento através de baterias ou outras quaisquer.
Não somos contrários a nenhum tipo de fonte, por reconhecermos as vantagens de cada tipo. Temos o máximo respeito e admiração pelas nossas Associações amigas ABEEÓLICA, e ABSOLAR, que nunca se manifestaram contra nenhum tipo de fonte.
Ou seja, essa obsessão contrária à geração termelétrica tem uma conotação muito mais ideológica do que técnica. Tais obsessões são sempre amenizadas (desde a década de 80) em períodos hidrológicos muito desfavoráveis ou na ocorrência de blecautes.
Aí é possível ver claramente que segurança não tem similar, e tem custo técnico, social e político extremamente elevado.
Mais recentemente, estamos em plena discussão sobre o problema muito complexo do vencimento de contratos de geradores termelétricos, que chegam perto de 6.000 MW a curto prazo. Quando vemos declarações de que tais recursos podem ser desativados porque a demanda não aumentou devido à pandemia, ficamos, realmente, muito preocupados ao ver que não estão sendo entendidas claramente as funções de segurança desses geradores, das dificuldades de montagem de infra-estruturas logísticas para estes geradores, e dos problemas que as desativações das mesmas causariam.
Neste ponto, cabe salientar que todos os pontos de vista dessas análises da nossa Associação são respaldados por estudos técnicos realizados pelos mais competentes consultores e discutidos em detalhes pelos especialistas que compõem a Associação.
E nossa forma de atuar será sempre no sentido de agregar, diversificar, debater, conversar, jamais obcecar.
Obcecar não é um sentimento bom, principalmente quando se sabe que essas declarações terão sempre que ser esquecidas nos momentos desfavoráveis do Sistema.
Xisto Vieira Filho é Presidente da ABRAGET